
Yeda Rorato Crusius ,Ex: Governadora do estado do Rio Grande do Sul e Economista
A minha geração, a do pós-guerra, sabe que as
irmãs gêmeas, inflação e dívida, são gestantes de
desigualdades que permitem a eclosão de guerras
civis e entre nações. Vivi a inflação, vi como ela
se transforma em hiperinflação e instabilidade, e
de um modo especial como economista e política
vivenciei o Real, plano de reestruturação que deu
cabo à inflação e iniciou a reversão das desigualdades
no Brasil. Ao final da Segunda Grande Guerra,
em 1945, reuniram-se 44 nações em Bretton Woods
e acordaram a criação de instituições supranacionais
que tinham como objetivo o convívio entre os
países criando um sistema de regras que impedisse
a repetição dos horrores do totalitarismo, que teve
na falência das economias perdedoras - e, portanto,
devedoras - da Primeira Grande Guerra (1914-1918)
o seu meio de desenvolvimento propício. O mundo
viveu então um período longo de desenvolvimento
e inclusão. Já em 1971 o padrão monetário internacional
mudou, o dólar crescentemente substituiu o
padrão-ouro, e as dívidas dos países dependentes
do petróleo e sem moeda estável levaram a um período
de estagnação, empobrecimento e instabilidade
dos devedores como o Brasil. Eram os anos
1970/1980. Os 1980, anos da nossa hiperinflação, a
década perdida. Por uma dívida impagável.
Equacionamos a dívida. Não por acaso, o Plano
Real é parte do ciclo da queda do Muro de Berlim
(1989), a nossa Constituinte (1988), o desenvolvimento
da União Europeia (UE), a emergência
da potência China, a reação fundamentalista.
Eram os anos 1990 do novo ciclo mundial com
expansão promovida pelo comércio e pela tecnologia
da internet, ampliando o crédito mundial
sem haver um padrão monetário mundial único
que garantisse o desenvolvimento sem crises. As
crises estão aí, clamando por uma nova rodada
para firmar, em Bretton Woods ou onde for, um
sistema que impeça uma nova Torre de Babel de
moedas/papéis representando países sem lastro
democrático e econômico, fomentando o retrocesso
do desenvolvimento conquistado com as novas
instituições (como a União Europeia) do ciclo pós-
1990. É por isso, urgente, o alerta: a inflação vem
se reinstalando no nosso País. Nada ganhamos retrocedendo
no controle da inflação. Criando dialetos
entre irmãos que sofrem de modo desigual
os seus efeitos, a inflação vem com a guinada na
política econômica – regime de metas - que nos
permitiu ingressar no mundo dos líderes do desenvolvimento
com menor desigualdade, maior
estabilidade, respeito e diálogo.
Economista
Fonte: Jornal do Comércio / Porto Alegre
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